A história de um brasileiro do interior de São Paulo que que tenta tornar a arte mais acessível por meio da internet
Por Paloma ChiericiA maldita pandemia meio que reafirmou essas premissas de que precisamos de arte, já que, com o isolamento social, sentimos uma tremenda necessidade de ir ao cinema, ao teatro, aos museus e a diversos lugares para saciar nosso desejo e nossa necessidade de arte. Vimos as lives pipocarem com apresentações de vários tipos. Vibramos, questionamos e brigamos (claro) com as obras daqueles artistas que expuseram seus trabalhos ao ar livre. Algumas tretas uniram até a galera com ideologias diferentes, como a obra “Diva” da artista Juliana Notari. Uma vagina de 33 metros de altura esculpida em Pernambuco que despertou a ira de parte da população brasileira. Segundo a artista, ela usa a arte para dialogar.
Voltando ao foco do texto (sou de peixes, me perco fácil), minha intenção é falar sobre a arte e a internet. Durante a pandemia, a única forma de termos acesso à arte foi por meio da internet, mais uma vez: obrigada, Corona! -contém ironia- e isso nos manteve saciados. Há pouco tempo, conheci, aqui na Holanda, um perfil de um Brasileiro que se dedica a falar sobre arte, história, cultura…. Ele é o João Messias, um consultor de vendas que mora na Holanda desde 2019. João é um amante da arte que usa seu canal no Youtube e seu perfil no Instagram para bater um “dedim de prosa” com seus seguidores sobre esse tema. E, aproveitando minha estadia passageira nas terras que ficam abaixo do nível do mar, bati um papo bem legal com o João e compartilho com vocês.
Por que você se mudou para a Europa? O que fazia no Brasil antes?
Mudei para a Holanda, porque o meu namorado conseguiu um emprego em uma empresa holandesa na área de TI, então mudamos pra cá, fevereiro de 2019. No Brasil eu estava estudando pré-vestibular para retornar à universidade.
Você usa as redes sociais para divulgar arte, por quê?
Eu uso as redes sociais para falar de arte, porque eu acredito que ela é uma poderosa ferramenta de inclusão e que me possibilita atingir diferentes públicos.
Quando e por que você teve essa ideia?
Eu tive a ideia de começar o meu projeto, porque eu vim de um bairro no interior de São Paulo e gostaria que todas as pessoas próximas a mim tivessem acesso a esses locais, mesmo não estando aqui.
Além do perfil no Instagram, você tem outros canais de comunicação? Como é o conteúdo que você produz?
Atualmente eu também tenho um canal no YouTube chamado ArchaeoPoint. Meu conteúdo é baseado no respeito pelos diferentes tipos de arte e a valorização do passado. Por isso, escolhi o nome ArchaeoPoint. “Archaeo”, em Grego, significa antigo, mas se você prestar atenção existe um paradoxo na vida humana muito engraçado, porque o passado é algo sempre presente nas nossas vidas. Se eu fizer uma caminhada, pintar um quadro, abraçar alguém ou capturar um momento único em uma foto, instantes depois essas coisas já farão parte do meu passado, por isso é imprescindível estudarmos e entendermos o nosso passado.
O que é arte para você?
Arte para mim é sentimento e expressão. Nós produzimos arte desde muito tempo, desde que estávamos em cavernas e retratávamos a nossa rotina em comunidade.
Arte erudita ou arte popular? Qual você escolhe?
O conceito de erudito e popular ainda é algo muito debatido pela comunidade acadêmica. Arte Rococó, por exemplo, quando foi criada, era vista como algo horrível pela nobreza, porém, depois ela se elitizou. Mas dito isso, eu creio que me identifico mais com a arte popular, porque foi a arte na qual eu fui criado.
Qual a importância da arte erudita e da popular também na vida das pessoas?
Arte erudita está intimamente ligada aos movimentos e anseios sociais ao longo da história. Sendo assim, estudando essa arte, estamos estudando também toda a sociedade. A arte popular é fundamental para entender o presente, o que está acontecendo na sociedade e para que caminho estamos seguindo.
Como você percebe a relação do brasileiro com a arte?
Existe uma diferença bem grande entre o Brasil e os países da União Europeia no que se refere ao acesso à arte e à maneira como ela é abordada em nosso cotidiano. Infelizmente, o Brasil tem um acesso bem mais restritivo devido às questões econômicas, sociais e até territoriais.
Você vê alguma diferença entre brasileiros e europeus em relação à arte?
No Brasil, muitas pessoas marginalizam e ridicularizam a arte produzida na periferia e supervalorizam artes dentro de museus e teatros caros. Mas a simples verdade disso tudo é que a desigualdade social e econômica do país aumenta o preconceito com esse tipo de manifestação social e impede, muitas vezes, que essas pessoas de periferia apresentem ou frequentem outros locais.
No Brasil, várias obras de arte vêm sofrendo ataques, sobretudo de vertentes mais conservadores, e houve uma obra recebeu ataque de diferentes vertentes ideológicas. Na sua opinião, o que motiva isso?
A arte constantemente sofre ataques de vários lados, pois ela é uma expressão direta dos sentimentos humanos. Quando eu não compreendo ou não concordo com uma dessas coisas, eu tenho tendência a negar ou, até mesmo, reprimir isso para que eu me sinta no comando outra vez, por isso os ataques. Atacamos aquilo que não conhecemos. Logo, a melhor maneira de construir um ambiente social saudável é aumentar o acesso à informação e ensinar o respeito às diferenças.
É possível viver sem arte?
Não é possível viver sem arte, muitas das coisas que fazemos em nosso cotidiano é arte e nem prestamos atenção nisso.
Como tornar a arte mais acessível a todos?
No Brasil o acesso à arte depende majoritariamente de políticas públicas sociais e de uma base educacional pautada na valorização e no reconhecimento das diferenças culturais do país e do mundo. O Brasil é um país com uma variedade cultural e artística incalculável, então, o primeiro passo para tornarmos isso mais acessível é respeitar as diferentes formas de expressões artísticas e culturais presentes no país e cobrarmos das autoridades governamentais o aumento de políticas públicas voltadas ao acesso a cursos, museus, teatros, exposições, shows e etc.